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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A 'cesta de commodities' que pesa no aluguel pode engordar



São Paulo - Para quem não sabe, e de forma bem simplista, commodity (ou commodities, no plural - mercadorias, em inglês) é um termo que identifica bens em estado bruto, ou com grau mínimo de industrialização. As commodities são importantes na economia porque têm cotação (preço) e negociação global. Há, por exemplo, as commodities agropecuárias (trigo, algodão, café, soja, boi gordo); as minerais (minério de ferro, alumínio, níquel); e as ambientais (crédito de carbono).

As commodities são negociadas nas Bolsas de Mercadorias e movimentam, diariamente, bilhões de dólares. Quando, internacionalmente, há maior demanda por trigo, por exemplo, as empresas produtoras lucram, e, de certa forma, quem ajuda a pagar o lucro é o nosso aluguel, no caso de o reajuste do mesmo estar atrelado ao Índice Geral de Preço de Mercado (IGP-M).

Todo mês, você recebe informação sobre as oscilações do IGP-M, o índice utilizado para corrigir a maioria dos contratos de aluguel, em nosso País. Ainda utilizando um resumo simplista, isoladamente o IGP-M não existe. Para chegar até ele, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) utiliza os resultados de três outros indexadores: Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA); Índice de Preços ao Consumidor (IPC); e Índice Nacional de Custos da Construção (INCC).

Entre seus componentes, o IPA tem o grupo das matérias-primas brutas, recheadinho de commodities: milho, minério de ferro, algodão, soja. Quando as galinhas que ganham milho da Mariquinha estão com uma fome voraz; ou quando há um generalizado frisson mundial por aço (utilizado em praticamente todas as obras da construção civil e produzido a partir do minério de ferro), pouco vai adiantar você deixar de comer pamonha, ou desistir de comprar aquela mesinha com tampo de aço escovado. A demanda mundial vai inflar o IPA, que vai inflar o IGP-M, que vai inflar o nosso aluguel.

O IPC é composto pelos resultados das variações de preços de produtos agrupados em sete classes, entre elas a da carne bovina. Ainda que magra, a carne bovina que consumimos internamente tem seu preço influenciado pela cotação do boi gordo, aquele lá, da commodity global.

Aí que quando você lê, por exemplo: “a alta do IPC foi puxada pelo aumento da carne bovina”, significa também que houve maior demanda mundial por boi gordo, os produtores exportadores lucraram mais no mês, e o IPC alteado vai cair no IGP-M, que por sua vez despencará no nosso contrato de locação. A cada garfada no contrafilé, que à altura do almoço já terá custado mais caro, “demandaremos” aumento no nosso aluguel.

Finalmente, chegamos ao terceiro componente do IGP-M, que é o INCC. Entre outras influências, o Índice Nacional de Custo da Construção tem impacto do custo da mão de obra. Mão de obra não é commodity, você já está dizendo. Realmente, não é (o peso da commodity minério de ferro já está no índice anterior), mas se o teu cônjuge é pedreiro, ou engenheira, operador de máquinas, vidraceiro ou serve cafezinho numa construtora, o salário que recebe e que, em parte, será utilizado para pagar o aluguel, é o mesmo salário que contribui para aumentar... o aluguel.

Então, quem manda dar milho para galinha, gostar de pamonha, comprar mesa com tampo de aço escovado, atacar de bocada o contrafilé e ter marido ou esposa trabalhando na construção civil? Desse jeito, não vai dar para reclamar do aumento do aluguel, porque os culpados e as vítimas são as mesmas pessoas: nós.

“Índice de preços de imóveis residenciais: cuidado” - De acordo com o Sindicato da Habitação em São Paulo (Secovi/SP), existe a tendência de que outro “vilão” venha nos substituir na “culpa” de causadores do aumento de preço do nosso próprio aluguel, e também nos preços dos imóveis que, um dia, vamos comprar.

Em nota publicada (27, domingo, fevereiro) na mídia, sob título “Índice de preços de imóveis residenciais: Cuidado!”, o Secovi/SP comenta que o governo anunciou a intenção de criar um índice oficial, com vistas a medir a evolução do preço de imóveis no País e detectar risco de “bolhas” no mercado imobiliário, com o que ele, Secovi/SP, “está preocupado”.

De acordo com afirmações, na nota, do presidente do Secovi/SP, João Crestana, a preocupação se deve a que “há o risco de indexação (mais uma “commodity” na cesta que nosso aluguel tem dificuldade em carregar) e é complexo definir um modelo comum, em razão de características regionais e de o estoque de imóveis ser muito diferenciado”.

Já pensou? Mais um índice mirando bem na jugular do nosso aluguel? E distanciando nossa chance de deixar o aluguel para lá, e morar no nosso próprio puxadinho? Que coisa! Nos Estados Unidos e em países europeus, índices para detectar “bolhas” imobiliárias existem à farta. Aqueles não só deixaram de detectar a “bolha”, como, de certa forma, foram responsáveis por traçar o caminho que levou para o brejo as vacas e seus respectivos bezerros, norte-americanos e europeus (será que tem algo a ver com o vírus da vaca louca?).

Na nota, Crestana alerta: “O índice poderá ser mal interpretado e divorciado da realidade. Para servir à formação de conhecimento e não meramente à indexação irracional (cruz, credo!) de contratos de venda e locação, é preciso haver análise e debates profundos com a sociedade”.

A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F-Bovespa), através da Fundação Getúlio Vargas, já criou um indicador – o Índice Geral do Mercado Imobiliário Comercial (IGMI-C), e informa que, em breve, lançará o IGMI residencial. As instituições parceiras esclarecem que os índices – criado e a criar, não serão utilizados para indexar preços de imóveis, e sim orientar os grandes conglomerados financeiros (notadamente, fundos de pensão) que pretendem investir no mercado imobiliário.

Sabe o que quer dizer BM&F? Quer dizer: Bolsa de Mercadorias & Futuro. Lá no começo da nossa conversa você leu que commodities são negociadas em bolsas de mercadorias. Leu também que commodity quer dizer mercadoria (algumas daquelas que fazem o nosso aluguel subir). Quanto ao “Futuro” da sigla, oficialmente significa negócios através dos quais o investidor “aposta” que, após certo período, as cotações de alguma (ou algumas) mercadoria alcançará determinado patamar. Extra oficialmente, pode significar certa interferência no futuro do nosso aluguel.

Em tempo: suco de abacaxi é commodity, e de maracujá, também.

Fonte:R7

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DESAPROPRIAÇÃO DA AVENIDA PEDRO I

Paulo Viana Cunha é advogado especializado em negócios imobiliários. Representando comerciantes da região, formou Comissão de Moradores e Comerciantes da Av. Pedro 1º, com objetivo de conhecer os projetos e debater, com a comunidade e o Poder Público Municipal, algumas alternativas que atendam ao interesse público, com menor impacto para a Comunidade local.Os interessados podem contatar a Comissão pelo Telefone (31) 2551-2718.


Ares de mudança começam a rondar, pelo menos no papel, o entorno da Avenida Pedro I, que corta as regiões Pampulha e Venda Nova, em Belo Horizonte. A prefeitura decretou de utilidade pública, para fins de desapropriação, cerca de 240 imóveis no Bairro Santa Branca, na primeira região. Publicada ontem no Diário Oficial do Município (DOM), a decisão é um importante passo para duplicar a via e implantar o Transporte Rápido por Ônibus (BRT, bus rapid transit, em inglês). Junto das avenidas Pedro II/Carlos Luz e Cristiano Machado, o corredor Antônio Carlos/Pedro I vai receber o novo sistema, principal aposta do poder público para agilizar o trânsito na capital, visando a Copa do Mundo de 2014. Inspirado no metrô, o sistema conta com pistas exclusivas para os coletivos, plataformas em nível, pagamento da tarifa antes do embarque, além de ônibus articulados. Apenas para preparar o caminho para o novo modelo de transporte, a prefeitura calcula um gasto de R$ 180 milhões em desapropriações, além dos R$ 217,7 milhões da duplicação. O projeto total é orçado em R$ 700 milhões. Pela previsão da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), as desapropriações, que vão ocorrer, sobretudo no sentido Centro/bairro, começam em janeiro e as máquinas entram em campo dois meses depois. Já em setembro, a BHTrans, empresa que gerencia o tráfego da capital, decide qual consultoria dará apoio à execução das obras de requalificação da Pedro I. Atualmente, a via tem duas pistas de duas faixas em cada sentido, e será duplicada em toda sua extensão. São cerca de 3,5 quilômetros, compreendidos entre as avenidas Portugal e Vilarinho. A obra amplia em 27 metros a via, por onde circulam cerca de 45 mil veículos diariamente. O corredor ganha mais uma pista, com duas faixas por sentido, exclusiva para transporte coletivo. Depois de concluída esta primeira fase, será iniciada de fato a implantação do BRT, com a construção de estações de embarque e desembarque de passageiros, além de terminal de integração com outras linhas. A previsão é que no segundo semestre de 2012 a população já possa circular nos ônibus articulados, nos moldes de capitais como Curitiba e Bogotá (Colômbia). INDENIZAÇÃO A notícia deixa em alerta quem mora ou trabalha nas proximidades da avenida, consagrada pelo comércio de automóveis e materiais de construção. Apesar de não ter havido proposta formal, proprietários de imóveis temem receber valor aquém ao de mercado, aquecido pela especulação imobiliária. Já os inquilinos lamentam abandonar a avenida, e outros respiram aliviados, com a desapropriação parcial do terreno, dando oportunidade de permanecer no ponto. Preocupados com as mudanças, moradores e comerciantes formaram comissão para acompanhar todo processo. A discussão foi, inclusive, pauta de audiência pública na Câmara Municipal esta semana. De acordo com o advogado da Comissão dos Moradores e Comerciantes da Pedro I, Paulo Viana Cunha, a principal preocupação é em relação ao preço a ser pago pelos imóveis. “Além de desapropriar, em muitos casos, a medida mata o negócio. E a prefeitura já disse que não pagará a indenização para fins de comércio”, ressalta. Segundo ele, moradores também questionam a poluição do ar e sonora trazida pela obra. Essas questões serão discutidas, segunda-feira, em reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam). Especulação eleva preços Há mais de 30 anos na Avenida Pedro I, na altura do Bairro Santa Branca, Região da Pampulha, a Pujal Autopeças passou ilesa pela primeira duplicação da via, quando o comandante dos negócios era ainda o pai de Marcelo Marques Teixeira, que divide a gerência da loja com mais dois irmãos. Desta vez, eles estão na lista de desapropriação e, de malas prontas, lamentam a mudança forçada para nova sede, no bairro vizinho, o Santa Mônica. “Vamos perder muito com a mudança. Queríamos ir para a Avenida Portugal, aqui perto, mas a especulação aumentou demais. O preço está fora da realidade. Tem terreno de 1 mil metros quadrados valendo R$ 1 milhão”, comenta. A expectativa é conseguir receber da prefeitura valor compatível com o investimento de uma vida. “O ponto aqui é sem comparação”, afirma. Se, para os comerciantes, a preocupação é o sustento, para os moradores a dor de cabeça é a perda da tranquilidade. A contabilista Sirley Nascimento, de 37, sofre com os engarrafamentos diários e reconhece a importância da duplicação, mas também teme impactos negativos das intervenções. “Não sabemos se a estrutura do prédio vai aguentar. Pelo projeto, vai passar um viaduto bem ao lado”, reclama a moradora. O prédio fica às margens da avenida, bem em frente ao Parque Municipal Lagoa do Nado, área verde que não sofrerá alterações com a obra. (FA) *Publicado em: 27/08/2010 / Estado de Minas / Gerais